GEOGRAFIA
Apresentação
As idéias propostas nesse
documento levam em consideração os fundamentos de uma Geografia da atualidade.
Deve-se, portanto, compreendê-la como uma ciência do presente, inspirada na
realidade contemporânea e que permita ao jovem estudante entender o mundo atual
por meio das diversas apropriações dos lugares, suas interações e suas
contradições.
Quando se pensa em uma Geografia
para o século XXI, devemos considerar que essa disciplina, assim como as
outras, resulta da influência direta promovida pelas alterações impostas pelo
meio técnico-científico informacional.
A partir do final do século XX,
as mudanças resultantes das novas formas de comunicação, responsáveis,
inclusive, por criar uma nova perspectiva de espaço — o virtual —,
transformaram a maneira como a sociedade lida com o conhecimento, impondo
também ao ensino da disciplina uma nova perspectiva.
Essa nova concepção de Geografia,
aqui defendida, incorpora um segundo momento, quando os desafios impostos pelas
transformações do meio técnico-científico-informacional — inserido em sala de
aula e fora dela — promoveram uma conexão on line e passaram a influir e a
modificar o local, o regional e o global ao mesmo tempo.
O encurtamento das distâncias
associado à expansão dos meios de transporte tanto de pessoas e mercadorias
como de informações, assim como as alterações promovidas no mundo do trabalho,
permitem a cada momento vislumbrar um leque de aproximações capazes de romper
com as barreiras culturais, aproximando mundos diferentes. Essa nova concepção
de espaço influencia os modos de agir e de pensar da humanidade em sua
totalidade.
O ensino de Geografia ganha,
portanto, uma nova dimensão de espaço — o espaço virtual e materializa numa
concepção de ensino diferenciada, em que os conteúdos específicos de Geografia,
ao interagirem com os de outras ciências, possibilitam ao educando, por
intermédio da mediação realizada pela escola, a ampliação de um conhecimento
autônomo e abrangente.
Também é fundamental desenvolver
uma atitude de respeito aos saberes que o estudante traz à escola, adquiridos
em seu meio cultural, pois é certo que envolvem uma variada gama de discussões
com temas da atualidade, como a urgência ambiental, os diferentes níveis de
bem-estar das populações, as questões de saúde pública, as políticas
assistenciais, as greves, o desemprego, a globalização, as relações
internacionais, os conflitos de diferentes ordens, as crises econômicas, entre
outras.
Essas questões, presentes
diariamente em jornais, reportagens de televisão, manchetes de revistas e na rede
mundial de computadores, compõem o cenário no qual os jovens vivem e atuam, e
devem transformar-se em contextos para a discussão e a compreensão do mundo que
os cerca em todas as suas dimensões. São estas as necessidades essenciais que
mobilizam formas de pensar e agir de um cidadão do século XXI, que muitas vezes
é ator principal de seu tempo e, em outras, coadjuvante e observador crítico
das ocorrências planetárias.
O objeto central da investigação
geográfica reside, portanto, no estudo do espaço geográfico, abrangendo o conjunto
de relações que se estabelece entre os objetos naturais e os construídos pela
atividade humana, ou seja, os artefatos sociais. Nesse sentido, enquanto o
“tempo da natureza” é regulado por processos bioquímicos e físicos responsáveis
pela produção e pela interação dos objetos naturais, o “tempo histórico”
responsabiliza-se por perpetuar as marcas acumuladas pela atividade humana como
produtora de artefatos sociais.
Ao considerar tais premissas, o
ensino de Geografia deve priorizar o estudo do território, da paisagem e do
lugar em suas diferentes escalas. Assim, rompe-se com uma visão estática na
qual a natureza segue o seu curso imutável e irreal, enquanto a humanidade é
vista como uma entidade a ser estudada à parte, como se não interagisse com o
meio.
O conceito de escala geográfica
expressa as diferentes dimensões que podem ser escolhidas para o estudo do
espaço geográfico, passível de ser abordado a partir de recortes tais como o
lugar, a região, o território nacional ou o mundo. Entretanto, as diferentes
escalas geográficas estão sempre inter-relacionadas: é preciso, por exemplo,
considerar o mundo, a região e o território nacional na análise dos fenômenos
que ocorrem no lugar.
Desse modo, assim como os demais
componentes curriculares da educação básica, cabe ao ensino de Geografia, nas
séries iniciais, privilegiar a alfabetização geográfica, ou seja, desenvolver
linguagens e princípios que permitam ao aluno ler e compreender o espaço
geográfico. No que se refere ao Ensino Fundamental, é importante ressaltar a
necessidade de considerar os conteúdos mais adequados à faixa etária a que se
destina, considerando as características cognitivas e afetivas relativas a cada
uma delas. Propomos uma abordagem que leve em consideração os seguintes eixos
conceituais:
a)
Território – O termo foi
originalmente formulado pela Biologia no século XVIII, compreendendo a área delimitada
por uma espécie, na qual são desempenhadas as suas funções vitais. Incorporado
posteriormente pela Geografia, o conceito ganhou contornos geopolíticos ao
configurar-se como o espaço físico no qual o Estado se concretiza. Porém, ao se
compreender o Estado nacional como a nação politicamente organizada,
estruturada sobre uma base física, não é possível considerar apenas sua função
política, mas também o espaço construído pela sociedade. Portanto, o território
deve ser considerado a extensão apropriada e usada pela sociedade. Ao compreender
o que é o território, deve-se levar em conta toda a diversidade e a
complexidade de relações sociais, de convivências e diferenças culturais que se
estabelecem em um mesmo espaço.
b)
Paisagem – Distinto do senso
comum, esse conceito tem um caráter específico para a Geografia. A paisagem
geográfica é a unidade visível do real e que incorpora todos os fatores
resultantes da construção natural e social. A paisagem acumula tempos e deve
ser considerada como “tudo aquilo que vemos; o que nossa visão alcança”
(SANTOS, 2001). Dessa forma, uma paisagem nunca pode ser destruída, ela está
sempre se modificando. As paisagens devem ser consideradas como a forma de um
processo em contínua construção, pois representam a aparência dos elementos
construídos socialmente e, portanto, representam a essência da própria
sociedade que as constrói.
c)
Lugar – O conceito de
paisagem vincula-se fortemente ao conceito de lugar, e este também se distingue
do senso comum. Para a Geografia, o lugar traduz os espaços nos quais as
pessoas constroem os seus laços afetivos e subjetivos, pois pertencer a um
território e fazer parte de sua paisagem significa estabelecer laços de identidade
com cada um deles. É no lugar que cada pessoa busca suas referências pessoais e
constrói o seu sistema de valores. São esses valores que fundamentam a vida em
sociedade, permitindo, a cada lugar, construir uma identidade própria.
d)
Educação cartográfica – A
alfabetização cartográfica deve ser entendida como um dos instrumentos indispensáveis
para a cidadania. Como afirma Lacoste, “cartas, para quem não aprendeu a lê-las
e a utilizá-las, sem dúvida não têm qualquer sentido, como não teria uma página
escrita para quem não aprendeu a ler”. Portanto, uma educação que objetive a
formação do cidadão consciente e autônomo deve incorporar no currículo os
fundamentos para o desenvolvimento da alfabetização cartográfica, da leitura e
da interpretação de gráficos e tabelas, além de leitura, interpretação e
confecção de mapas.
A seguir são apresentadas as
expectativas de aprendizagem em cada um dos tópicos. A leitura das expectativas
de aprendizagem deve considerar os conteúdos de ensino a que referem.
As expectativas de aprendizagem
não pretendem reduzir os conhecimentos a serem ensinados / aprendidos, mas,
sim, indicar os limites sem os quais o aluno teria dificuldades para prosseguir
seus estudos, bem como participar ativamente na vida social.
Nenhum comentário:
Postar um comentário