terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

POR QUE ESTUDAR A GEOGRAFIA?


GEOGRAFIA
Apresentação
As idéias propostas nesse documento levam em consideração os fundamentos de uma Geografia da atualidade. Deve-se, portanto, compreendê-la como uma ciência do presente, inspirada na realidade contemporânea e que permita ao jovem estudante entender o mundo atual por meio das diversas apropriações dos lugares, suas interações e suas contradições.
Quando se pensa em uma Geografia para o século XXI, devemos considerar que essa disciplina, assim como as outras, resulta da influência direta promovida pelas alterações impostas pelo meio técnico-científico informacional.
A partir do final do século XX, as mudanças resultantes das novas formas de comunicação, responsáveis, inclusive, por criar uma nova perspectiva de espaço — o virtual —, transformaram a maneira como a sociedade lida com o conhecimento, impondo também ao ensino da disciplina uma nova perspectiva.
Essa nova concepção de Geografia, aqui defendida, incorpora um segundo momento, quando os desafios impostos pelas transformações do meio técnico-científico-informacional — inserido em sala de aula e fora dela — promoveram uma conexão on line e passaram a influir e a modificar o local, o regional e o global ao mesmo tempo.
O encurtamento das distâncias associado à expansão dos meios de transporte tanto de pessoas e mercadorias como de informações, assim como as alterações promovidas no mundo do trabalho, permitem a cada momento vislumbrar um leque de aproximações capazes de romper com as barreiras culturais, aproximando mundos diferentes. Essa nova concepção de espaço influencia os modos de agir e de pensar da humanidade em sua totalidade.
O ensino de Geografia ganha, portanto, uma nova dimensão de espaço — o espaço virtual e materializa numa concepção de ensino diferenciada, em que os conteúdos específicos de Geografia, ao interagirem com os de outras ciências, possibilitam ao educando, por intermédio da mediação realizada pela escola, a ampliação de um conhecimento autônomo e abrangente.
Também é fundamental desenvolver uma atitude de respeito aos saberes que o estudante traz à escola, adquiridos em seu meio cultural, pois é certo que envolvem uma variada gama de discussões com temas da atualidade, como a urgência ambiental, os diferentes níveis de bem-estar das populações, as questões de saúde pública, as políticas assistenciais, as greves, o desemprego, a globalização, as relações internacionais, os conflitos de diferentes ordens, as crises econômicas, entre outras.
Essas questões, presentes diariamente em jornais, reportagens de televisão, manchetes de revistas e na rede mundial de computadores, compõem o cenário no qual os jovens vivem e atuam, e devem transformar-se em contextos para a discussão e a compreensão do mundo que os cerca em todas as suas dimensões. São estas as necessidades essenciais que mobilizam formas de pensar e agir de um cidadão do século XXI, que muitas vezes é ator principal de seu tempo e, em outras, coadjuvante e observador crítico das ocorrências planetárias.
O objeto central da investigação geográfica reside, portanto, no estudo do espaço geográfico, abrangendo o conjunto de relações que se estabelece entre os objetos naturais e os construídos pela atividade humana, ou seja, os artefatos sociais. Nesse sentido, enquanto o “tempo da natureza” é regulado por processos bioquímicos e físicos responsáveis pela produção e pela interação dos objetos naturais, o “tempo histórico” responsabiliza-se por perpetuar as marcas acumuladas pela atividade humana como produtora de artefatos sociais.
Ao considerar tais premissas, o ensino de Geografia deve priorizar o estudo do território, da paisagem e do lugar em suas diferentes escalas. Assim, rompe-se com uma visão estática na qual a natureza segue o seu curso imutável e irreal, enquanto a humanidade é vista como uma entidade a ser estudada à parte, como se não interagisse com o meio.
O conceito de escala geográfica expressa as diferentes dimensões que podem ser escolhidas para o estudo do espaço geográfico, passível de ser abordado a partir de recortes tais como o lugar, a região, o território nacional ou o mundo. Entretanto, as diferentes escalas geográficas estão sempre inter-relacionadas: é preciso, por exemplo, considerar o mundo, a região e o território nacional na análise dos fenômenos que ocorrem no lugar.
Desse modo, assim como os demais componentes curriculares da educação básica, cabe ao ensino de Geografia, nas séries iniciais, privilegiar a alfabetização geográfica, ou seja, desenvolver linguagens e princípios que permitam ao aluno ler e compreender o espaço geográfico. No que se refere ao Ensino Fundamental, é importante ressaltar a necessidade de considerar os conteúdos mais adequados à faixa etária a que se destina, considerando as características cognitivas e afetivas relativas a cada uma delas. Propomos uma abordagem que leve em consideração os seguintes eixos conceituais:
a) Território – O termo foi originalmente formulado pela Biologia no século XVIII, compreendendo a área delimitada por uma espécie, na qual são desempenhadas as suas funções vitais. Incorporado posteriormente pela Geografia, o conceito ganhou contornos geopolíticos ao configurar-se como o espaço físico no qual o Estado se concretiza. Porém, ao se compreender o Estado nacional como a nação politicamente organizada, estruturada sobre uma base física, não é possível considerar apenas sua função política, mas também o espaço construído pela sociedade. Portanto, o território deve ser considerado a extensão apropriada e usada pela sociedade. Ao compreender o que é o território, deve-se levar em conta toda a diversidade e a complexidade de relações sociais, de convivências e diferenças culturais que se estabelecem em um mesmo espaço.
b) Paisagem – Distinto do senso comum, esse conceito tem um caráter específico para a Geografia. A paisagem geográfica é a unidade visível do real e que incorpora todos os fatores resultantes da construção natural e social. A paisagem acumula tempos e deve ser considerada como “tudo aquilo que vemos; o que nossa visão alcança” (SANTOS, 2001). Dessa forma, uma paisagem nunca pode ser destruída, ela está sempre se modificando. As paisagens devem ser consideradas como a forma de um processo em contínua construção, pois representam a aparência dos elementos construídos socialmente e, portanto, representam a essência da própria sociedade que as constrói.
c) Lugar – O conceito de paisagem vincula-se fortemente ao conceito de lugar, e este também se distingue do senso comum. Para a Geografia, o lugar traduz os espaços nos quais as pessoas constroem os seus laços afetivos e subjetivos, pois pertencer a um território e fazer parte de sua paisagem significa estabelecer laços de identidade com cada um deles. É no lugar que cada pessoa busca suas referências pessoais e constrói o seu sistema de valores. São esses valores que fundamentam a vida em sociedade, permitindo, a cada lugar, construir uma identidade própria.
d) Educação cartográfica – A alfabetização cartográfica deve ser entendida como um dos instrumentos indispensáveis para a cidadania. Como afirma Lacoste, “cartas, para quem não aprendeu a lê-las e a utilizá-las, sem dúvida não têm qualquer sentido, como não teria uma página escrita para quem não aprendeu a ler”. Portanto, uma educação que objetive a formação do cidadão consciente e autônomo deve incorporar no currículo os fundamentos para o desenvolvimento da alfabetização cartográfica, da leitura e da interpretação de gráficos e tabelas, além de leitura, interpretação e confecção de mapas.
A seguir são apresentadas as expectativas de aprendizagem em cada um dos tópicos. A leitura das expectativas de aprendizagem deve considerar os conteúdos de ensino a que referem.
As expectativas de aprendizagem não pretendem reduzir os conhecimentos a serem ensinados / aprendidos, mas, sim, indicar os limites sem os quais o aluno teria dificuldades para prosseguir seus estudos, bem como participar ativamente na vida social. 

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